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Planeta pode ultrapassar 1,5 °C da era pré-industrial nos próximos 5 anos

A temperatura média do planeta no período entre 2021 e 2025 caminha para se tornar a maior desde o quinquênio 2016-2020 — o mais quente da história desde a era pré-industrial —, alerta a Organização das Nações Unidas (ONU) em relatório divulgado nesta quinta-feira (27). De acordo com o documento, que reúne dados dos principais modelos de projeção climática do mundo, a probabilidade de que a média dos próximos cinco anos seja superior à dos últimos cinco já é de 80%.

Produzido pelo Escritório de Meteorologia do Reino Unido para a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada da ONU, o estudo prevê que a temperatura global média anual (terrestre e marítima) será, no mínimo, 1°C mais alta do que a dos níveis pré-industriais em cada um dos próximos cinco anos. Segundo as estimativas, esse aumento deverá acontecer na faixa de 0,9°C a 1,8°C.

A projeção combinou modelos climáticos de centros especializados de todo o mundo, incluindo, além da Inglaterra, Espanha, Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, Japão, Austrália, Suécia, Noruega e Dinamarca. Levando em consideração oscilações naturais – como o evento El Niño, fenômeno que aumenta ligeiramente a temperatura do ano em que acontece – e influências humanas sobre o clima, o documento esboça o comportamento de variáveis como temperatura, precipitação e padrões de vento previstas para o próximo quinquênio.

O relatório estima que, ao final de 2021-2025, quase todas as regiões do globo, exceto algumas partes dos oceanos do Hemisfério Sul e do Atlântico Norte, estarão mais quentes em comparação ao passado recente – definido como a média de 1981-2010. Estima-se também que áreas de alta latitude e a região desértica do Sahel, na África, terão maior umidade, assim como a ocorrência de ciclones tropicais no Atlântico será mais recorrente do que no intervalo 1981-2010.

“Estas são mais do que apenas estatísticas”, afirma Petteri Taalas, secretário-geral da OMM. “O aumento das temperaturas significa mais derretimento do gelo, níveis mais elevados do mar, mais ondas de calor e outras condições climáticas extremas e maiores impactos na segurança alimentar, saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável”, avalia o meteorologista, em comunicado.

Há, ainda, uma probabilidade de 40% de que pelo menos um dos anos do intervalo 2021-2025 seja 1,5°C mais quente do que os níveis pré-industriais – que se referem à média do período de 1850 a 1900. A estimativa, de acordo com os pesquisadores, não significa que, se um ano atingir essa média, o Acordo de Paris – cujo principal objetivo é assegurar que o aumento da temperatura média global não ultrapasse 2º C em relação aos níveis pré-industriais – seria violado.

Isso porque, como explica Adam Scaife, chefe de previsão do centro de meteorologia do Reino Unido, é preciso avaliar o aumento da temperatura global no contexto das mudanças climáticas a longo prazo – e não as médias anuais ou mensais individualmente, embora elas também sejam indicadores importantes para a elaboração de medidas contra o aquecimento global. Segundo o documento, é muito improvável que a temperatura global anual média do quinquênio 2021-2025 ultrapasse 1,5°C em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial.

“No entanto, uma ultrapassagem temporária [isto é, durante algum ano do intervalo 2021-2025] do nível de 1,5 grau já pode ser vista nos próximos anos”, pondera Sacife. A opinião é compartilhada por Richard Allan, professor de Ciências do Clima da Universidade de Reading, na Inglaterra, para quem cruzar o limiar de 1,5 ºC em um único ano não é significativo por si só, mas, se entendida como parte da tendência de aquecimento registrada nos últimos anos, a estimativa deixa um alerta importante.

“Este caminho de aquecimento levará a impactos cada vez mais perigosos em todo o mundo das mudanças climáticas, a menos que nossas emissões de gases de efeito estufa sejam rápida e drasticamente cortadas”, argumenta Allan, que não participou do estudo.

Os pesquisadores acreditam que os resultados do relatório serão particularmente importantes para as discussões da 26ª Conferência das Partes sobre a Mudança Climática (COP26), a ser realizada em novembro de 2021, em Glasgow, na Escócia. Na ocasião, representantes dos países-membros da ONU se reunirão por 12 dias para estabelecer novas metas e estratégias capazes de frear o avanço das mudanças climáticas. “É mais um alerta de que o mundo precisa acelerar os compromissos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e alcançar a neutralidade de carbono”, considera Taalas.

Por Galileu

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